Vanguardeando Blog

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terça-feira, 18 de agosto de 2009

Acordando 2.0

Sou despertado bruscamente pelo toque irritante e imperativo do meu telefone celular, e finalmente quando sonambulamente o localizo e disponho-me a atender tão inconveniente chamada, aquele ou aquela que suponho, esteja do outro lado, desiste.
Ponho o telefone em algum canto qualquer. E fico deitado olhando para o alto, para o teto.
Andando pela rua ainda com muitas pessoas que indiferente a derrota do Brasil pela França, e assim findando a participação brasileira na copa do mundo de 98, com o Brasil captando um indiferente vice-campeão. As pessoas bebiam, gritavam, choravam, riam. Caminhava, caminhava em direção a algum lugar que não iria chegar e conheceria uma pessoa, que sempre habitou os meus sonhos mais secretos e que hoje reside no infinito da minha alma.
Ouço uma voz me chamando no meio daquela pequena balbúrdia. Do outro lado da rua duas ninfas sagazes estão na tentativa de chamar-me a atenção, ou de enfeitiçar-me com seus poderes ocultos e encantadores. Diante de tamanha beleza, eu “ogro” que sou, tive dificuldades de aceitar e entender que fosse comigo aquele chamado um tanto quanto traquinas.
Conversamos no intuito de nos conhecermos e de sabermos onde estaria rolando alguma boa festa. Saímos daquela calçada e ao mesmo tempo em que caminhava, eu me deslumbrava, num primeiro momento, confesso, com a beleza do seu corpo, pra mim tudo era perfeito. Depois de algumas caminhadas por aquelas ruelas, nos defrontamos com um casarão que segundo ela, haveria de ter uma ótima festa. Não havia ninguém na portaria da casa da suposta festa, mas ouvíamos o som que lá de dentro saía. Entramos nos acomodamos diante do balcão e ficamos conversando por horas a fio. Conversamos sobre tudo, acredito que não tínhamos a necessidade ou obrigatoriedade de impressionar, objetivando que um conquistasse o outro. Até porque, não visualizava a mais remota possibilidade do sapo beijar a princesa e vir a ser um príncipe, ou algo que o valha.
E foi assim sem pretensão de ter ou de desejar ter algo, mas sim aproveitar o momento com alguém, alguém que inexplicavelmente eu sentia que era importante pra mim, que foi passando o tempo, e sentia cada vez mais vontade de estar ao lado daquela semideusa, não mais pela beleza estonteante do seu corpo, mas tão só pela paz e pelo carinho que transbordava do seu ser.
Em dado momento, enaltecidos por aquele bem estar e por consideráveis doses de algum afrodisíaco benigno, lhe pedi, humildemente um abraço. Meio encabulado, muito encabulado lhe pedi, com muita esperança e vontade de recebê-lo. O recebi, o recebi com tamanha afetuosidade e calor. O mundo parou, no momento em que nossos corpos se tocaram com aquele tão simples e singelo abraço o mundo parou. O mundo recomeçou a ter um novo e único sentido pra mim. Não há e talvez não haja de haver nada igual. Um abraço tão fraternal, quanto um carinho maternal. Instintivamente, inexplicavelmente, sentimos vontade de chorar, tamanha a emoção que transbordava de nossos corpos e de nossas almas, tão pequeninas diante da imensidão do oceano de bons sentimentos que nem sequer podemos supor como e quantos são. Só imagino que sei que são.
Nos dias que se seguiram não podíamos nos separar, uma necessidade tão ímpar e singular. Primeiro não sabíamos se o que tínhamos sentindo era natural ou foi induzido por alguma substância, álcool, quiçá.
Meu dinheiro acabou e não tinha mais como ficar naquela cidade e estar ao lado dela e aproveitar o que se seguia nas festividades da cidade. Mas como assim, não iria ficar como assim (?), abandonaria aquela, cujo momento ao seu lado era repleto de significados cada vez mais relevantes para a construção ou reconstrução da minha vida? Ou do que eu entendia sobre a vida.
Então decidi conseguir algum lugar para ficar para aproveitar os dias que ainda restavam de festividades, dormir na rua? Sim, dormi. O mais importante era estar ao lado dela.
Não sei como ela conseguiu que eu ficasse hospedado no mesmo lugar que ela. Dormi num porão. Dormi ao lado dela depois de um banho, que ela mesma me deu. Como se fosse minha mãe ou minha irmã. Dormimos juntos abraçados, como se fôssemos namorados há anos, talvez fôssemos, mas não no momento atual, tivéssemos sido em algum outro momento.
Na ultima noite que estávamos juntos iria ter um show, um show que ela me disse por diversas vezes que não perderia, assim como me disse que quem iria acompanhá-la, era um grande artista plástico ou algo similar. Bom, senti primeiramente raiva de estar sendo trocado por um show, show que eu não tinha como ir pois, não tinha nem mais dinheiro para ir embora pra casa, estava com raiva, pois imaginava que naquela noite, quando ela estivesse ao lado do tal artista, e na empolgação daquele show, ela me esqueceria. E desta forma, tudo não passaria de "meros" e "comuns" momentos, propícios e notórios a juventude, na sua "cultura" de "ficar". Se eu tinha sentido profundidade em nosso relacionamento, não passava de uma ilusão da minha mente fértil e febril. Naquela noite fria de Julho, deitei-me no chão forrado com cobertores velhos e chorei logo após ela se despedir categoricamente dando a entender que eu não a veria mais. Até porque eu partiria de carona pela manhã, bem cedo. A minha raiva foi passando, e só ficou um pouco de tristeza, quando não mais que derrepente senti um afago em meu corpo, e vi a coisa mais linda da minha vida. Seus olhos marejados e sua voz trêmula me dizendo que ela não conseguia ficar nem mais uma noite longe de mim, nos beijamos e talvez pela primeira vez tivéssemos feito, o que chamam de amor...
Acordei com o celular tocando. Atendo. Digo: É engano!

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