Vanguardeando Blog

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sábado, 28 de novembro de 2009

Falações acadêmicas...

E minha falação começou assim:

A presente comunicação visa versar sobre a fundamentação do ensino fundamental no Brasil e fazer algumas considerações sobre uma possível introdução da filosofia também neste ciclo da educação brasileira.

O ensino fundamental no Brasil se deu de forma mais intensa, ou se pode assim dizer de forma mais “popularizada” a partir da década de 30, durante o governo de Getúlio Vargas. De sua gênese que remonta o período colonial até o momento presente o ensino fundamental sofreu diversas transformações, mas sua eficácia enquanto relevante fase do desenvolvimento e fundamentação para o alicersamento educacional e constituinte de cidadania no educando ficou comprometida. Históricamente se torna visível a afirmação citada e contemporâneamente podemos evidenciar diversas lacunas apresentas por este ensino que está intrisicamente ligado a formação do sujeito (ou educando), permitindo que haja cada vez mais um distanciamento ao que este ciclo de ensino se pretende (e que assegurado e garatindo por leis, decretos e ementas).

Utilizando como fontes para reflexões e apontamentos mergulhei num universo repletode textos e pesquisas sérias efetuadas por graduandos, mestres, doutores e alguns pensadores. Os quais se debruçam sobre as questões da educação, filosofia, sociedade, do sujeito e sua construção e enfim se debruçam sobre a questão da vida que vivemos (ou quiçá, deveríamos viver).

Partindo de um pressuposto que creio ser importante. Pressuposto este que é a construção e realização do sujeito. Sigo ostentando algumas suposições a fim de fundamentá-las ao vagar não de minha idiosicrasias, mas sim de uma relativa investigação (que espero finda-la sem a pressão e exigência de tempo, determinada por certos ditames, exigências e rigores “academicistas”), que entre um dos seus escopos, é verificar a possibibilidade de uma introdução da filosofia a partir do ensino fundamental. Por exemplo a fim de inciar um melhor embasamento deste sujeito que encontra-se em construção, numa construção que também não há de encerrar-se num determinado ensino superior. Mas ao olhar as mulheres, homens, jovens e crianças. Não há como de iníncio, início desta empreita de ao menos tentar ver surgir um meio de nossa sociedade sair da barbárie que encontra-se, motivado quiçá, por um capitalismo neo-liberal, apoiar-me, debruçar-me a infância deste sujeito em construção. Desta forma, sou compelido a compreender a nossa educação. Compreender o ensino fundamental, que como apontei anteriormente é aí que se dá a construção do alicerse do sujeito. Saliento que não vejo a educação, como a única saída para um Aufklärung e/ou único caminho para uma lucidez. Mas ela é uma parte relevante de todo um processo de transformação do sujeito...

sábado, 17 de outubro de 2009

Alguém sabe a razão de não haver mais prova de filosofia no vestibular da UFRJ?

Alguém sabe a razão de não haver mais prova de filosofia no vestibular da UFRJ?
Eu não sei.
Quem vai saber destas coisas, o "Oráculo" talvez.

O jogo de tira e põe o ensino de filosofia, não somente no vestibular (de algumas instituições de ensino superior público), mas também no elenco das disciplinas que compõem o ensino médio. Não é um fato recente e/ou inédito. É sim uma repetição que em linhas gerais, vem acontecendo a mais de 30 anos no Brasil.
Num primeiro momento, e fazendo uma avaliação um tanto quanto superficial, posso identificar de início que não só a filosofia mas também outras disciplinas foram estigmatizadas como disciplinas que não atuam conforme o intuito estratégico do Estado. Pois, se tratando não só do ensino público e gratuito que ainda é uma obrigação deste fornecer educação à todos, não obstante o ensino privado também tem de acompanhar os ditames proclamados pelo MEC. Com isso um fator que constitui a minha breve análise é verificar que disciplinas ofertadas criam ônus para o Estado e para as instituições privadas.
Um outro fator, e não menos relevante, é a ideologia que compõem o objetivo a priori da educação. Faz-se saber: formar cidadãos, que atualmente na minha concepção, foi atrelado a ser também um trabalhador. Quanto a esta relação, que por sinal é pouco debatida em diversos espaços e quiçá até mesmo aonde o trabalhador se faz presente, não é foco da deturpação ideológica e/ou pseudo-filosófica. A decadência ideológica, filosófica e pedagógica se dá em incutir na sociedade ao longo de vários anos a falsa aplicabilidade que determinadas disciplinas tem, e que por isso favorecem uma inserção (rápida) no mercado de trabalho. Enquanto isso, paralelamente outras disciplinas são caracterizadas como algo que não se conjuga e aplica, laconicamente falando, a vida cotidiana e/ou ao mercado de trabalho. As disciplinas, como a filosofia, que são tidas como algo inútil por não serem alvo de fácil manipulação ideológica e por não acompanharem o determinismo espúrio de algumas vertentes vorazes do capitalismo e regimes políticos autoritários é sempre conduzida ao esquecimento ou a uma interpretação caricata sobre seu propósito. Não obstante, uma das ridicularizações notórias é a falsa afirmação de que por exemplo, a filosofia não tem um propósito (e por isso não serve para nada). O que posso colocar em linhas gerais, ainda como graduando em filosofia, é que a filosofia não tem um único propósito somente, ou seja, ela pode ter vários propósitos. Puerilmente exemplifico que se pode atuar com a filosofia nos diversos campos de saberes que compõem a sociedade de conhecimento. E isso de forma quase sempre de forma crítica, mas não pirrólica. Pois, o intuito de uma investigação filosófica e/ou de uma iniciativa filosófica não é desconstruir verdades para substituir por outras. Mas sim, estar em quase que um permanente estado de alerta sobre o que venha a ser estas verdades (sejam elas na economia, política, educação ou saúde).
Dotar o sujeito desde cedo com um conhecimento harmonizado com as várias disciplinas, valorizando sua experiência subjetiva, possibilitando-o que não somente se informem, mas que consigam entender a informação. Que tenham uma crescente atitude investigativa sobre sua vida e o que a compõem é por deveras ousado. E o Estado estava ciente disto a mais de trinta anos passados.
Suponho que alguma parcela da responsabilidade sobre a filosofia e outras disciplinas estarem neste joguete de tira e põem, de entra e sai de currículos. Pode ser por um certo ostracismo acadêmico. E/ou porque nós pretensos filósofos não damos a devida importância ao nosso daimom e perdemos nosso pathos.
Bem, continuo sem saber exatamente a razão da extinção da prova de filosofia do vestibular.
Mas quem saberá destas coisas? O "Oráculo" talvez.

Atenciosamente,

Brunno Amâncio Marcos - 21 71379701 - 21 87503280
Graduando em filosofia - UFF (Universidade Federal Fluminense)
Niterói/RJ
"Não sou pessoa de deixar mensagens em garrafas . O que temos a dizer não é apenas para um futuro mítico ."
Herbert Marcuse

domingo, 6 de setembro de 2009

É um lugar aonde as pessoas chegam mais perto da perfeição inatingível e sempre sonhada.

Tudo é limpo e claro. Tudo é belo.

As pessoas fazem-se belas por gosto, vontade, desejo e imposição. Imposição soturna, invisível e ameaçadora. Imposição implacável detentora de um mundo perfeito e inexistente no concretismo de uma vida perene como a de todos nós.

Templo dos deuses adoecidos.

Venerados por cegos, surdos e mudos.

Centro de cultura da massa encéfalo, que tudo crê na visão colorida do vazio.

É outro mundo, um mundo absurdo e frio.

Mundo dual de Platão e concreto de Nietzsche, quiçá.

Pessoas com olhares que nada dizem.

Vozes uníssonas.

Escravos e mais escravos compartilham a carniça suja e decrépita em papel e plástico (que não se pode reciclar).

Sobrevivem germes, bactérias e o status quo.

Pobre sociedade que autoconsomem o que pensa (pelos que acreditam ter alma), destrincham a alma com fortes e vigorosas dentadas.

Depois jactar-se felicidade em grandes sacolas e caixas enormes. O volume da matéria é a relevância do ser que ali está.

Regozija-se o saldo frio e pálido da automatic teller machine.

Tudo tão igual, e nos fazemos de indiferente achando-se superior aos muitos iguais a nós.

Aceita-se seu amuleto de plástico nacional e internacional: digite sua senha por favor (subserviência imposta sobre pena de sanção).

Embuste concentrador de sonhos de consumo (ahaha! Qualidade de vida!).

Propagador de estereótipos mal reproduzidos.

Caça-níqueis endiabrado e insano. Usurpador de filosofias vãs.

Seqüestrador de seres humanos e desumanos, ninguém está e sairá ileso de sua horrível faina, disfarçada por cores, luzes e sorrisos amarelos.

Enfim, no inicio há uma terna bondade mefistotélica: Sejam bem vindos!

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Platônico da Silva

Acordou de manhã bem cedo, ainda tonto, cabeça vazia, sem memórias... Caminhou até ao pequeno banheiro, e mais uma vez não se olhou no espelho (o que estava ali continuava sendo inaceitável). Olhando para o vaso sanitário com a tampa rachada a tempos, pensou ou falou: ...este é o ponto final, não vale a pena escrever mais este rascunho de vida.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Acordando 2.0

Sou despertado bruscamente pelo toque irritante e imperativo do meu telefone celular, e finalmente quando sonambulamente o localizo e disponho-me a atender tão inconveniente chamada, aquele ou aquela que suponho, esteja do outro lado, desiste.
Ponho o telefone em algum canto qualquer. E fico deitado olhando para o alto, para o teto.
Andando pela rua ainda com muitas pessoas que indiferente a derrota do Brasil pela França, e assim findando a participação brasileira na copa do mundo de 98, com o Brasil captando um indiferente vice-campeão. As pessoas bebiam, gritavam, choravam, riam. Caminhava, caminhava em direção a algum lugar que não iria chegar e conheceria uma pessoa, que sempre habitou os meus sonhos mais secretos e que hoje reside no infinito da minha alma.
Ouço uma voz me chamando no meio daquela pequena balbúrdia. Do outro lado da rua duas ninfas sagazes estão na tentativa de chamar-me a atenção, ou de enfeitiçar-me com seus poderes ocultos e encantadores. Diante de tamanha beleza, eu “ogro” que sou, tive dificuldades de aceitar e entender que fosse comigo aquele chamado um tanto quanto traquinas.
Conversamos no intuito de nos conhecermos e de sabermos onde estaria rolando alguma boa festa. Saímos daquela calçada e ao mesmo tempo em que caminhava, eu me deslumbrava, num primeiro momento, confesso, com a beleza do seu corpo, pra mim tudo era perfeito. Depois de algumas caminhadas por aquelas ruelas, nos defrontamos com um casarão que segundo ela, haveria de ter uma ótima festa. Não havia ninguém na portaria da casa da suposta festa, mas ouvíamos o som que lá de dentro saía. Entramos nos acomodamos diante do balcão e ficamos conversando por horas a fio. Conversamos sobre tudo, acredito que não tínhamos a necessidade ou obrigatoriedade de impressionar, objetivando que um conquistasse o outro. Até porque, não visualizava a mais remota possibilidade do sapo beijar a princesa e vir a ser um príncipe, ou algo que o valha.
E foi assim sem pretensão de ter ou de desejar ter algo, mas sim aproveitar o momento com alguém, alguém que inexplicavelmente eu sentia que era importante pra mim, que foi passando o tempo, e sentia cada vez mais vontade de estar ao lado daquela semideusa, não mais pela beleza estonteante do seu corpo, mas tão só pela paz e pelo carinho que transbordava do seu ser.
Em dado momento, enaltecidos por aquele bem estar e por consideráveis doses de algum afrodisíaco benigno, lhe pedi, humildemente um abraço. Meio encabulado, muito encabulado lhe pedi, com muita esperança e vontade de recebê-lo. O recebi, o recebi com tamanha afetuosidade e calor. O mundo parou, no momento em que nossos corpos se tocaram com aquele tão simples e singelo abraço o mundo parou. O mundo recomeçou a ter um novo e único sentido pra mim. Não há e talvez não haja de haver nada igual. Um abraço tão fraternal, quanto um carinho maternal. Instintivamente, inexplicavelmente, sentimos vontade de chorar, tamanha a emoção que transbordava de nossos corpos e de nossas almas, tão pequeninas diante da imensidão do oceano de bons sentimentos que nem sequer podemos supor como e quantos são. Só imagino que sei que são.
Nos dias que se seguiram não podíamos nos separar, uma necessidade tão ímpar e singular. Primeiro não sabíamos se o que tínhamos sentindo era natural ou foi induzido por alguma substância, álcool, quiçá.
Meu dinheiro acabou e não tinha mais como ficar naquela cidade e estar ao lado dela e aproveitar o que se seguia nas festividades da cidade. Mas como assim, não iria ficar como assim (?), abandonaria aquela, cujo momento ao seu lado era repleto de significados cada vez mais relevantes para a construção ou reconstrução da minha vida? Ou do que eu entendia sobre a vida.
Então decidi conseguir algum lugar para ficar para aproveitar os dias que ainda restavam de festividades, dormir na rua? Sim, dormi. O mais importante era estar ao lado dela.
Não sei como ela conseguiu que eu ficasse hospedado no mesmo lugar que ela. Dormi num porão. Dormi ao lado dela depois de um banho, que ela mesma me deu. Como se fosse minha mãe ou minha irmã. Dormimos juntos abraçados, como se fôssemos namorados há anos, talvez fôssemos, mas não no momento atual, tivéssemos sido em algum outro momento.
Na ultima noite que estávamos juntos iria ter um show, um show que ela me disse por diversas vezes que não perderia, assim como me disse que quem iria acompanhá-la, era um grande artista plástico ou algo similar. Bom, senti primeiramente raiva de estar sendo trocado por um show, show que eu não tinha como ir pois, não tinha nem mais dinheiro para ir embora pra casa, estava com raiva, pois imaginava que naquela noite, quando ela estivesse ao lado do tal artista, e na empolgação daquele show, ela me esqueceria. E desta forma, tudo não passaria de "meros" e "comuns" momentos, propícios e notórios a juventude, na sua "cultura" de "ficar". Se eu tinha sentido profundidade em nosso relacionamento, não passava de uma ilusão da minha mente fértil e febril. Naquela noite fria de Julho, deitei-me no chão forrado com cobertores velhos e chorei logo após ela se despedir categoricamente dando a entender que eu não a veria mais. Até porque eu partiria de carona pela manhã, bem cedo. A minha raiva foi passando, e só ficou um pouco de tristeza, quando não mais que derrepente senti um afago em meu corpo, e vi a coisa mais linda da minha vida. Seus olhos marejados e sua voz trêmula me dizendo que ela não conseguia ficar nem mais uma noite longe de mim, nos beijamos e talvez pela primeira vez tivéssemos feito, o que chamam de amor...
Acordei com o celular tocando. Atendo. Digo: É engano!

Acordando 1.0

Acordo sentindo um doce e úmido toque em meus lábios, meu travesseiro está parcialmente molhado de suor. Levanto-me da cama, bebo um pouco d'água e acendo um cigarro. Fico fumando na penumbra e na solidão de meu quarto. Sinto o meu corpo me chamando para a cama novamente. Acabo de fumar, bebo mais um pouco d'água e volto a dormir.

Desejo de Anjo

...um jovem drogado chamado Anjo, ele é um estudante que se prepara para ingressar numa faculdade através do vestibular. Trabalha para se sustentar, mas gasta todo seu dinheiro com drogas, bebidas, prostitutas e com seus amigos da classe média alta da zona sul do Rio. Com seus amigos ou não, parte para uma odisséia muito underground, regada de atitudes extremas, como assaltos, brigas, sexo, drogas e no final tudo termina sempre em depressão e solidão.

Um dia sente que tudo o que ele sonhou e objetivou estava acabando, se afastando dele, como sua família, seus amigos, o seu amor pela vida. Sua vida.
Ele decide lutar para viver ou render-se, e aprender a se respeitar, decidiu selecionar suas amizades, lugares para ir, deu valor a sua liberdade. Decidiu esquecer o seu mundo de loucuras.

Numa noite de muito calor ele decidiu tomar uma cerveja em um bar próximo do seu prédio, ele encontra com uma bela garota (que também usa drogas) e começam a conversar sobre muitos assuntos. Existe entre eles certa identificação muito grande, embora ela seja de classe média alta e ele pobre de grana e sem família.

Eles começam a sair juntos os dias que passam. E cada vez mais eles se gostam. Começam a sentir como é bom ter alguém especial ao lado. Descobrem um sentimento forte um pelo outro, dia após dia.

Para ela o encontro com ele foi uma coisa especial, pois a motivou sair do pequeno grande mundo de vulgaridades e da mentiras que é o mundo das drogas, pois estava de "saco cheio" de se drogar para se sentir bem. Sendo que na verdade o que sentia era ver sua vida afundar num enorme e profundo abismo de tristeza e medo.

Após a mudança de alguns hábitos que ela identificou como prejudiciais, assim como ele também verificou decidiram parar de usar. E ambos decidiram também estudarem a fim de passarem no difícil e incoerente vestibular.

Ela passa no vestibular, e conta a ele. Eles ficam muito felizes e decidem ir para um bar, para comemorarem. Tudo vai bem até chegada de uma amiga de infância dela, e ambas usaram muitas drogas juntas. Ela fica muito desconfortável com a presença da amiga que chega de súbito e talvez com drogas. Anjo diz a amiga de sua amada que ela passou no vestibular. A amiga de infância ficou muito feliz com a notícia, abraçou-a fortemente, e depois do abraço, coloca um papelote de cocaína disfarçadamente dentro da bolsa da amiga, sem que ela e ele vejam o que ocorreu. Ela se levanta para ir ao banheiro, e a amiga de infância também se levanta, pede um cigarro e se despede do casal. Vai embora. Ela segue em direção do banheiro e enquanto isso, ele pega a bolsa dela, sua amada, a fim de pegar um cigarro, e encontra além do cigarro, um papelote de cocaína. Ele fica transtornado. Quando sua amada volta do banheiro, mal se senta na cadeira, e ele pergunta por que ela não tinha falado com ele que tinha voltado a usar. Ela não entende o que está ocorrendo, e ele mostra o que acabou de encontrar dentro da bolsa. Começa uma grande discussão. Ele levanta, joga o dinheiro em cima da mesa para pagar a conta e vai embora. Mas ela o segue pela rua, ele lhe pede que o deixe em paz. Faz sinal para um táxi que se aproxima, entra e segue aparentemente sem destino. Ela fica no meio da rua tentando entender como aquela droga foi parar dentro da sua bolsa. Fica pensando na possibilidade dele nunca mais acreditar nela e deixá-la, para sempre. Mas ela precisa de alguma forma falar com ele e tentar esclarecer o que o houve, o que está havendo. Ela tenta entender como aquela droga foi parar dentro da bolsa, pois ela sabia que não tinha comprado, nem pedido droga a ninguém. O pior era não saber como ela poderia provar isso para ele. Fica pensativa e começa a chorar pela rua.

Em seu apartamento ele decide sair da cidade, e como um louco junta seus trocados e suas roupas e parte em direção da rodoviária.

Ela chega ao apartamento dele, mas ele não está. Ela encontra com o porteiro, e pergunta a ele sobre seu namorado, mas o porteiro não sabe informar exatamente para aonde ele foi, sabe que ele saiu com uma mochila de viajem e muito apressado.

Ela vai para sua casa e pega a sua bolsa de viajem a arruma com muita pressa, procura alguém em casa, mas não encontra seus pais. Não encontra ninguém. Parte rápido para rodoviária na esperança de encontrar com ele, mas isso não acontece. Então ela decide ir para qualquer lugar, compra a passagem e embarca num ônibus.

Ele está numa pequena cidade, pensando em como pode ter acontecido tudo tão rápido e como pode ser tão ruim o sabor da decepção. Mas o pior é está apaixonado, ter acreditado na possibilidade de amar alguém. Chega à conclusão que por muito tempo vai continuar acreditando no amor e que vale a pena viver para amar. Amar a si, amar o outro, uma mulher, amar a vida. Ele entra num pequeno bar, pede uma cerveja. Ela entra no bar, eles se olham e se beijam.

Anjo conversa com ela a respeito do que aconteceu. Ele diz a ela que é mais fácil mentir para ele, desistir de algum ideal, ou simplesmente desistir dele. Pois ela sempre teve tudo o que podia e queria ter, comprar... Ela lhe diz que o ama muito. E que não adianta ter muito dinheiro e família se não se tem liberdade. Não saber o que é a liberdade e o que fazer com ela em nossa vida. Diz-lhe também, que quando se ama de verdade se perde o medo de sofrer e o medo de perder quem se ama.
Mas ainda existe uma dúvida para ambos, como aquela droga foi parar dentro da bolsa e por que?

Eles voltam para o Rio, encontram com a amiga de infância dela, e ela pergunta se eles gostaram do presente que ela deixou dentro da bolsa da ultima vez que se encontraram num bar a noite, a amiga de infância não espera a resposta e vai embora rapidamente, a fim de atravessar a rua, ela está mexendo na bolsa de forma desajeitada e deixa cair algo no chão, ela se abaixa para pegar, e não vê um caminhão de lixo que se aproxima e o caminhão não consegue desviar dela. Ela é atropelada. O caminhão para, desce o motorista e seus ajudantes, eles ficam observando o corpo da jovem que está atirado ao chão, sangrando. A amiga de infância está com um papelote de cocaína em suas mãos. Chega a ambulância com a equipe de emergência, o médico da equipe presta o atendimento, mas murmura que ela está morta.

Eles estão numa praia e jogam flores ao mar. Ele tira do bolso uma pequena caixa, abre a caixa contendo uma aliança, a coloca delicadamente no dedo de sua amada e a beija na boca.

domingo, 16 de agosto de 2009

Mais uma carta não lida (ou são apenas palavras que não me dizem nada)

Num primeiro momento pensei em escrever e expor o máximo possível no que acreditei ter sido possível fazer enquanto estávamos um pouco mais próximos. E ainda lamentar não ter feito você ficar motivada a desconstruir sua já vivida vida e experimentar uma nova forma de interpretar e interagir no mundo que está a sua volta (O propósito tenha surgido mediante suas manifestações de descontentamento com sua vida). Bom, suponho que devido a sua rotina e todos os hábitos que a compõem, uma exposição longa, cujo objetivo não é de expor muitas e muitas palavras e sim detalhar objetivamente uma reflexão. Porém, ciente desta rotina e de tudo mais, creio que não é prudente que assim eu o faça. Pois, irá ler rápido demais como se o mundo fosse acabar a qualquer instante e antes que isso viesse a acontecer terá respondido todos os seus “por que”, e assim terá construído mais uma vez uma interpretação superficial e lacônica de algo bem mais profundo. Este algo profundo de que falo, muito tem haver com o que citei a cima (desconstruir sua já vivida vida e experimentar uma nova forma de interpretar e interagir no mundo que está a sua volta), e isso não se restringe a uma troca de namorado, noivo, marido etc. Isso tem haver com pensar e agir de uma forma diferente no que concerne a ser realizar sendo o que se tem vontade e desejo de ser, e esta vontade e vontade de ser está intrinsecamente relacionado a liberdade, e ser livre tem que ousar sê-lo, e também aceitar seus desafios ocultos, ou não tão ocultos assim, como assumir responsabilidades. Sendo que a maior responsabilidade que se tem é consigo próprio. E não como delegar ou facultar isso a outro. Isso é nosso. É nosso direito e dever. Assumimos a responsabilidade de nos construirmos ao menos tentando ser uma pessoa mais completa a caminho da felicidade, que é construída por momentos e superação de momentos, ou não, Não assumimos nosso direito e dever de ser de nossa responsabilidade nossa jornada a caminho de algo, e assim atribuímos ao outro, ou a outros, a tarefa que é nossa. Abdicamos de nossa liberdade completa por temor, insegurança ou por ousar cremos ser capazes de transpor obstáculos. E ficamos na limitante e menos intimidante posição, posição esta que é de conforto. Pensamos, é assim que tem que ser não irá mudar. Bom, não pensar que o mundo muda a todo instante é em primeiro lugar admitir nossa imobilidade. Pois, somos parte do mundo.

A mudança real é árdua, pois muitas vezes somos direcionados por uma força invisível, Ego, etc. A retornar fazer as repetidas ações que sabemos que não irão nos permitir a sermos o que desejamos ser. Mesmo que não saibamos exatamente o que seremos. Mas sabemos o que não queremos ser, e isso já é uma boa indicação que algo precisa ser feito (ou não). Velhos hábitos ficam enraizados no nosso consciente e inconsciente, e nos separarmos deles não é uma tarefa fácil. Mas pública e notoriamente podemos ver que o que afirmo não é nenhum disparate ou um devaneio tolo. Percebemos das mais diversas formas que muitas pessoas, independente da classe social/financeira e/ou cultural continuam agindo desconstrutivamente por muito tempo. Comodismo de pensar e agir. Comodismo com relação ao passado, ausência de uma plena e substancial vivencia presente e temor do futuro.

A construção de um pensamento é uma tarefa árdua. Quando falo pensamento quero dizer um conceito, algo que é construído segundo um processo de indução, dedução, contemplação e experimentação. Que pode conter erros e acertos. Pode ser útil, válido ou não. Mas que com certeza deve ser apreendido e vivenciado em teoria e prática.

Não lamento por não ter feito você ver, sentir os aromas do mundo. Outro mundo. Não lamento e não peço desculpas, por uma decisão autoritária minha. Mas isso é porque não posso forçar obrigar o outro a fazer algo. Se sinto dor é por ainda não compreender o que é o livre arbítrio. Esta coisa que possibilita o outro a fazer ou não fazer algo.

Não sou inflexível ideologicamente, ou seja, não sou nenhum cabeça dura teimoso. Só tenho boa vontade e disposição para defender as minhas idéias. E construo os argumentos necessários para isso. O importante pra mim não que aceitem a minha idéia, mas que ao menos se permitam a compreendê-la. Creio a cada dia, que o que está ausente neste mundo, é justamente a compreensão. E existe um exercício a ser efetuado para que viemos a compreender algo ou não. Parte deste exercício nos faz debruçarmos a verificarmos as coisas que se defrontam conosco com mais atenção e com menos pressa na solução de uma determinada questão. Não quero dizer que temos de procrastinar decisões e conclusões. Mas sim, analisar o que acontece conosco de forma mais dedicada. Como se estivéssemos apreciando e degustando uma saborosa refeição. Temos que degustar a vida e sentirmos seus sabores. E não somente ingerir e depois digerir a vida.

Quando estávamos num curto momento, esperava e desejava. Que estivesse pronta a viver a sua vida construindo-se. Aprendendo a amar-se tanto quanto alguém o possa fazer. Não desejava tê-la como um objeto, um animal de estimação, mas sim conviver contigo. Sentir-te enquanto uma mulher que se constrói ao longo da vida, descobrindo-se capaz de superar seus fantasmas e sua história. Esperava e desejava estar ao lado de uma mulher que sentia vontade de escrever a sua própria história. Uma mulher que constrói seu destino ousadamente, mesmo que o medo de um futuro incerto se mostre implacável. Mas que viesse a se confortar com a construção de um presente que vale ser digno de ser vivido. E isso pouco tem haver em construir um compromisso conjugal, matrimônio etc. Isso tem haver com construir momentos sociáveis e carinhosos, fraternais. Quem ama cuida e não é necessário vigiar. Proteger não é vigiar. Proteger é auxiliar aquele quem amam sobre a dureza da nossa vida contemporânea. Uma vida repleta de competição em todos os setores. Pois algumas vezes tenho a percepção que algo me diz quando leio os jornais e revistas, quando assisto a TV, que tenho ser o mais inteligente, o mais bonito, o mais rico, o mais branco, o mais loiro etc. Proteger a quem se ama sobre estas implicações, é reforçar que beleza maior está em ter coragem de viver, de construir uma vida, mesmo depois de sucessivas derrotas, de dias repletos infortúnios. É ajudar a quem se ama não perder o caminho da luz. O caminho do bem viver.

Creio na possibilidade de experimentar um relacionamento construído na verdade das ações, sentimentos, pensamentos e sonhos. Não deve haver amarras contratuais que impossibilite o outro de tomar a decisão de caminhar sozinho. De descobrir-se ao viver a vida como ela é. Mesmo sem saber exatamente como ela é. Todavia, havemos de ter a incessante curiosidade de uma criança para descobrir o que é a vida e como ela é (para nós e para os outros).

Não acredito mais na eternidade de um amor, e sim na sua infinitude. A infinitude de um amor é algo que existe na minha ainda pueril concepção. O amor é algo que tem um inicio, meio, mas não um fim. O amor surge quando nos permitimos a realizá-lo, quando nos permitimos a vê-lo, enfim senti-lo. O fato de sermos pessoas em alguns momentos diferentes não é um empecilho para construção do amor, ele não exige conhecimento prévio do outro. O amor segundo concepção universalista de sua definição não exige concordâncias, pois ele une as discordâncias e divergências. Têm-se planos, idéias, sonhos, objetivos, metas ou se não temos nada disso, é porque somos diferentes, somos pessoas diferentes. A diferença dos seres não deve causar e motivar a exclusão e sim a união. Devemos nos amar por sermos diferentes e não somente por sermos supostamente iguais.

Comportamentos um tanto quanto incoerentes do passado, só vem à tona, quando os colocamos à exposição. Às vezes eles surgem de forma consciente, outras vezes de forma inconsciente. Tentamos controlar nossos comportamentos desagradáveis, mas quando menos os esperamos nos surpreendem. O que fazer então? Não tenho a resposta exata para a solução deste problema, mas suponho que talvez a continua mudança de hábito seja parte desta resposta. Considerando que o meio nos influência de alguma forma, que aqui não irei precisar como isso se dá empiricamente, creio que temos de nos permitir influenciarmos por outros meios de convivência que supomos serem mais salutar. Mas ressaltando que temos de ter uma digamos, determinada boa vontade para mudar de comportamento, ou seja, temos de estar receptivos a novas informações, a novas influências. Informações e influências que podem nos conduzir para outro caminho, caminho menos desconstrutivo que o presente caminho. Somos agressivos e intempestivos, temos consciência disto. Temos de saber também que, agressividade não é bom para quem agride e nem para quem é agredido. Se, somos assim ou assado, ou seja, se estamos cientes de determinadas limitações e supostas imperfeições. Suponho que temos de nos compreendermos porque somos assim e fazemos certas “coisas”, temos que tentar transformar isso em atitudes mais condizentes com o que objetivamos para um futuro melhor, para uma melhor qualidade de vida e ainda para tenhamos mais felicidade nos momentos em que vivemos. Mas compreendermos a si e aos outros, vejo que é uma tarefa que não podemos nos furtar. Não é uma simples aceitação de si mesmo e do outro. Mas uma tentativa de compreensão de si e do outro.

Tudo o que foi colocado até agora não é fácil de executar, e eu próprio falho algumas vezes em sua execução na prática. Mas quando caio sinto que é faz-se necessário que me levante novamente e retorne a fazer o que tem de ser feito. Algumas vezes a dor que sinto na queda de um comportamento que cri ter extinguido é terrível. E digo mais, sinto-me envergonhado e sem forças para recomeçar. Mas ou me rendo e continuo agindo da forma que agi por boa parte da minha vida e com isso assumo que não tenho meios de construir a minha vida sendo o que quero ser, e crio diversos e incontáveis motivos que irão justificar minha decisão em permanecer infeliz. Sim, eu consigo justificar os motivos de minha infelicidade e me isento da responsabilidade na efetivação desta forma atroz de viver. Podemos dizer (ou pensar): Eu não sou responsável pela minha infelicidade, pelos meus atos, pela minha situação, eu não!

Consigo racionalmente criar sujeitos que são responsáveis, os julgo e os penalizo como culpados. Eles são responsáveis, são culpados em não deixar que eu seja ou não seja alguém livre para viver a “minha” vida. Eu sou só a vítima: Oh! Como eu sofro, por que isso acontece comigo, eu sou uma pessoa tão boa...

Somos assim, se quisermos ser. Depende em muito de nós passarmos de predicado a sujeito. E assumirmos definitivamente sermos a primeira pessoa do singular e sermos singularmente uma pessoa, um ser único.

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

A MENINA E O SORVETEIRO (OU UM DIA O CÉU CAI)

A MENINA E O SORVETEIRO (OU UM DIA O CÉU CAI)

Lucinha é uma menina linda, demonstra toda a sua beleza com sua tenra idade. Mora numa bela casa no interior do estado. Seus pais lhe dão carinho e atenção. São ricos. Ela estuda numa escola pomposa escola.
Na escola ela desperta o interesse de seus coleguinhas e também dos seus professores, por sua dedicação ou beleza encantadora.
Menina de semblante angelical, mas, não ingênua, delicada e às vezes provocante.
Ela esconde um segredo dentro de um baú e o guarda atrás do armário em seu quarto.
Gosta de tomar banho de sol à tarde, coloca uma roupa leve que adorna muito bem o seu corpo jovial e até mesmo exuberante para alguns. Põe se a correr e a brincar no vasto jardim de sua casa.
Toda a tarde passa um sorveteiro em sua rua, ele é um senhor bem velhinho. A sua beleza, é para ele adorável, é como se estivesse em frente a uma santa virginal. Ele gosta muito dela, e às vezes fica tão contente com sua presença que lhe dá sorvetes de graça, satisfaz se só com seu sorriso divinal.
Assim vão passando os dias. Ela despertando o carinho e atenção dos seus colegas da escola, e até mesmo o desejo oculto dos professores. E a felicidade do velhinho sorveteiro que a vê como um anjo.
Passam semanas, e o velho sorveteiro não aparece pra vender seus sorvetes.
Lucinha gosta da presença do velhinho e sente a sua falta.
Um dia pela tarde ela ouve o som feito pela flauta do bondoso ancião. Mas quem está lá não é o bondoso e agradável velhinho. E sim um menino, um menino sorveteiro. Um menino que deve ser também jovem, com roupas simples e um velho boné surrado na cabeça. Ele passa em frente a casa de Lucinha e ala o chama. Ela pede um sorvete, e nesse momento eles ficam se observando, um olhando pro outro, bem no fundo dos olhos. Ela sente seu corpo tremer e o menino transpira todo o corpo. Algo eles viram e sentiram que tornou o clima enigmático e intrigante. Talvez a beleza dela tenha também encantado o menino e isso fosse recíproco por que ela também o sentiu algo estranho ao estar ao lado do menino. Naquele momento sentiu também vontade de fazer várias perguntas e o fez. Enfim ficou sabendo que o velhinho estava doente e que aquele menino era seu neto.
Durante os dias e as semanas seguintes o menino passava pela rua com seus sorvetes. E a relação de amizade foi se estabelecendo entre eles. Brincavam um pouco, mas brincavam escondidos. Pois ela não deveria entrar em contato com estranhos e ainda mais, pobres.
Então eles brincavam sempre às escondidas no belo jardim ou na piscina.
Numa destas tardes antes do menino ir embora ela impulsivamente lhe deu um fulgurante beijo na boca. Eles se abraçaram tão forte que parecia um só corpo, e digamos que começaram a namorar as escondidas. Eles estavam descobrindo novos sentimentos e sensações.
Numa destas tardes ela o chamou pra ir a sua casa a noite pois, ela tinha um presente pra ele. Ele retrucou alegando vários motivos. Mas ela conseguiu persuadi-lo embora ele quisesse muito estar cada vez mais junto dela.
Ela fez todos os preparativos para a noite, colocou uma roupa bem bonita e ficou a esperá-lo. Esperou até que começou a adormecer sentido o corpo cansado pela espera, decidiu ir ao seu quarto e dormiu. Acordou repentinamente assustada, e foi até o seu baú no armário, retirou algo que estava contido nele e retornou a sua cama.
Neste momento alguém entra na casa, vai a todos os cômodos. E ao abrir a porta do quarto onde ela repousa na penumbra, faz com que ela acorde assustada e diversos disparos são efetuados. Uma pessoa cai ao chão. Ela corre ao interruptor e acende a luz, ao olhar o corpo que está caído ao chão.
Ela chora desesperada.
O corpo que ali está é do menino sorveteiro.

Brunno Amâncio (Marília/SP 1999)

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Vivo só.

Tantas pessoas ao meu redor. Mas me sinto só. E sinto além da solidão, a dor.

Dor que dá tapas em minha face, que chega a arder.

Sinto meu corpo desejoso de um afago carinhoso.

Desejo muitíssimo ouvir palavras carinhosas destinadas somente a mim.

Quero ver novamente aquele olhar, que me chama para perto de quem me olha.

Olhar que me admira pelo o que eu sou.

Sim, sou só e triste.

Sorrio, gargalho, brinco e suponho até que sou feliz. Todavia, sou só e isso me coage e me faz chorar.

Meu choro é um pedido, uma súplica, de quem diz: Por favor, não me mate! Eu ainda quero viver!

Vivo só, e de tão só que vivo, acho que sou até invisível, sou como água, insípida, inodora e incolor. Sou um ser, só.

De tão só que sou, acho que não me ouvem. Minha voz é um som fraco e sem sentido. Minhas palavras são emaranhados de letras, que formam palavras que ninguém entende.

Sou só.

Sou só. E sendo somente só, só desejo assim não mais ser.

Desejo não estar, desejo até, não mais existir.

Se não existir é não ser. E não ser é não ser só. Então desejo não ser. Pois só, não hei de ser mais.

Meu amor se transformou em solidão?

Solidão é uma boca enorme cheia de dentes, presas afiadíssimas, que abocanham gradativamente um pedaço do que um dia foi o meu coração.

E isso dói.

Sou só.

Brunno Amâncio Marcos

(Mais um mês triste de 2009)

O tempo ainda presente em mim

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”.

(Fernando Pessoa)

Não consigo precisar exatamente como e quando começou em mim o dito processo de transformação. Sei que hoje estou aqui. E que algo ainda me pede para não ficar aqui, a não parar. Continuar seguindo por uma estrada que muitas das vezes se encontra as escuras e com aspectos aterrorizantes, como as arvores e casarões dos filmes de terror e suspense.

Lembro-me claramente do passado, passado que às vezes me assombra como um fantasma mal. Mas não só desta forma lembro-me do meu passado. O relembro como um referencial importante para ajudar-me no presente. Todavia, o passado está em mim. Está contido em mim, indissociável, implacável e lúcido. Sim, lúcido. O passado é lúcido, por mais loucas e irracionais que tenham sido as minhas vicissitudes anteriores. O passado é concreto e imutável. Transitivo como um verbo. O passado é um verbo transitivo direto. E eu sou seu objeto direto.

Houve momentos que tive medo do meu passado. Porém, hoje não tenho mais. Tenho por ele respeito, e/ou certa admiração. Às vezes fico a contemplá-lo. Isso, o contemplo mais do que o admiro. Fico observando-o, como se estivesse assistindo um filme, e mentalmente consigo ver imagens e ouvir os sons destes momentos que outrora eram presentes. E que hoje nada mais são do que fragmentos do meu passado. E revê-los, determinadas (ou indeterminadas) vezes é como se estivesse navegando e houvesse para me guiar um farol, que me revela os obstáculos os quais devo se bom juízo e habilidade tiver me desviar, transpô-los. Pois, como já disse anteriormente, há algo dentro de mim, que por mais medo e receio que sinta, me pede a seguir adiante, em frente. O passado é um farol que me guia por caminhos que muitas vezes não tracei em meu mapa da vida.

O passado deixa marcas, registros, anotações num diário de bordo. E a bordo estou no que chamo de viver. Esta incrível aventura. Viver é uma incrível aventura. Viver é análogo as histórias que conheci como: Mil Léguas Submarinas, Viagem a Centro da Terra ou Alice no País das Maravilhas. Viver é a grande aventura de toda humanidade. Viver é ato e potência, é devir. É descortinar o palco da vida. Lançar-se ao desconhecido.

Por vezes, e muitas vezes, sou levado a crer que minha transformação começou muito antes do que até então supunha. Imaginava que minha transformação tinha iniciado na adolescência quando gradativamente usava a aparente liberdade que tinha por mérito ou conquista. Quando aos poucos não mais me guiava pelos auspícios da minha família, escola etc. Quando acreditava que liberdade era acordar a hora que bem entendesse, ir a qualquer lugar etc. Enfim, fazer o que se quer o que se tem vontade, sem dar maiores e melhores satisfações a alguém. O tempo passando sobre mim, como enormes nuvens brancas sobre minha cabeça. Acreditava que liberdade era tão só realizar meus desejos o mais plenamente possível. Sonhar intensamente, indeterminadamente, e ir ao além. Ao além deste mundo estranho, aonde por vez ou outra num raro momento de lucidez, me deparava com seus habitantes sinistros, chorões, reclamantes, queixosos, insatisfeitos. Habitantes que se transvertem, mascaram. Os mesmos que antropofagicamente me caçam e são caçados.

Não, neste mundo horrendo não hei de permanecer um só momento. Ficarei suspenso, transcendente com minha liberdade.

Mas hoje vejo que não havia ainda liberdade em meus equivocados e suicidas exercícios de transcendência. O que fazia nada mais era do que uma inútil tentativa de sabotar um sistema opressor, que mais me sabotava do que eu a ele. Sistema que me destruía, e esmagava gradativamente o que de mais belo eu tinha que era a possibilidade, direito e dever inalienável, que é sonhar e acreditar em realizar o sonho. E talvez, neste processo de sonhar e realizar resida a liberdade. Pois quando se extingue o sonho ou a utopia, se extingue o próprio ser humano e todas as suas possibilidades de realização.

“Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos, mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não darei os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente”.

(Mãos dadas -Carlos Drummond de Andrade)

O tempo presente é mais desafiador que o futuro. O tempo presente é arriscar-se a cada passo dado em direção a um lugar. O tempo presente se aproxima neste exato instante, agora, agora, agora.

Em verdade creio que não existe o presente, existe o agora.

Sou o verbo ser conjugado no tempo agora.

Tempo agora imperfeito. Agora do subjuntivo. Tenho sonhado, tenho chorado, tenho agido, tenho sofrido...

O presente que é agora, me pede, implora e as vezes ordena que eu venha a agir. Me condena a sair deste estado catatônico. E me impulsiona a frente das questões da vida, da minha vida e da vida dos outros. Como disse Sartre, o intelectual é aquele que se mete aonde não é chamado. Mas eu não sou um intelectual. Sou apenas um ser ou um ente. Não! Sou um ser. Um ente é alguma coisa. Sou mais que uma coisa. Sou um ser que pensa em pensar já pensando, penso que sei não sabendo nada a não ser saber que de fato nada sei ou um dia quiçá, saberei. Penso que amo sem saber definitivamente o que venha a ser amor e suas derivações, suas transformações. Sou um ser que tem pensado muito ou pouco, certo ou errado, mas tenho pensado.

No agora reflito mais do que no passado. O agora é o tempo ideal para as realizações, para as transformações e revoluções.

O agora ordena a liberdade plena, e desta forma, não se pode deixar de ser livre depois. Não obstante, deixaremos agora de consumir desesperadamente. Agora não consumirei levianamente ou com um simulacro de razão, as informações ditas relevantes, as profissões de sucesso, o statu quo, celulares, microcomputadores e notebooks, línguas arcaicas e modernas, não consumirei Platão, Freud, Lacam, Marx, Marcuse. Não consumirei o que há de consumir nos livros, revistas, cinemas e teatros. Não consumirei a TV que não vê ninguém como alguém (e sim como algo ou alguma coisa, coisinha). Consumirei o cigarro que dizem matar-me, consumirei ódio ao capitalismo, que consome o homem com a fome. Que consome com fome a saúde, a Paidéia, a esperança, os meus sonhos. Capitalismo que consome a minha fome e vontade viver e quiçá de muitos outros. O tempo é agora. Não vejo como retroceder a ser o que já não sou mais (nem menos). É morte, a minha morte. Retroceder a caminhada, na caminhada. Retroceder a idéia, ponderar as críticas, amenizar o ímpeto. Render-se passivamente, domesticadamente, ao futuro, que demonstra incerteza e perigo. Mas não posso fazer isso, não consigo, em verdade não quero.

Vivo o presente, sendo desejoso de realizações. O medo que o futuro insiste em querer me projetar agora é apenas e nada mais que um medo. Eu vivo o presente, eu estou e sou o agora. O futuro nada mais é do que uma palavra que suponho ter vários significados. Oxalá! O futuro é apenas uma palavra, uma construção semiótica derivada da teimosia de nós homens sentirmos prazer e necessidade de dar-mos nomes e significados a tudo e todos.