Vanguardeando Blog

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terça-feira, 15 de junho de 2010

Contingências - parte 1

Fizeram amor, de fato. Seus corpos suados e mentes esvaziadas, para preenchê-las de certezas.
O que deveria ser esquecido permaneceu no insólito esquecimento. Talvez. Mas havia um esforço para empurrar as lembranças de sórdidas vicissitudes, hoje sórdidas, no breu, no Hades. Porque, o inesperado de uma vida, é puro arroubo de uma divina entidade arrogante que por seu bel prazer, nos tira a harmonia apolínia da vida, do viver.
Num lúgubre recanto da cidade ele pensa em pensar sobre sua condição limitada, estreita e estéril. Pensa em sua existência bossal, no fardo que carrega em insistir em viver e não em sobreviver como todos os demais. Ser feliz na efemeridade da vida, da existência. Corajosamente quer partir, "time out". Canhestramente, desiste.
Fazem juras de amor, um casal de amantes de Apolo, sim, são de Apolo, a harmonia, a certeza, a retidão, o previsível. Amantes da verdade que está numa vida aonde se supõe e crer-se nesta suposição, que as paisagens em volta de um caminho não mudam com as caminhadas. Sim, de fato não mudam, quando se caminha cegamente com os olhos vendados. Enxergando uma pacificadora verdade, realidade que tranqüiliza os inocentes e os ignorantes, caminham cegos, surdos e mudos (com seu silêncio de desespero) através da confortável escuridão. Amam-se parmedianamente. Negam o devir, porque os teme. Haverá o triunfal controle sobre a hybris, phatos e sobre eros. Não há ouvidos para o daimon, que cale-se. E assim a "coisa"  segue ao esquecimento.
Passos a frente, um olhar perdido, pensamentos imperfeitos e vastas ilusões. Vontade e desejo de sentir o sopro final de uma vida repleta de embustes e sujeitos covardes com suas "armaduras" impenetráveis, suas verdades e mentiras, seu silencio agressivo e constrangedor, suas preleções de afeto, suas Ideologias de contrabando, Filosofias de botequim e História dos "vencedores". Já chega desta farsa, pensa e quase grita de felicidade. Sente-se pronto para uma nova vida, mais uma vez, não recomeçar uma outra vida, mas terminar esta que está falida. Atravessa a rua, sinal vermelho, faixa de pedestre, e um veículo com um condutor desatento ou não.
Noutro canto aconchegante,  o vigor do sexo exala um inebriante aroma, a felicidade parva, o gozo alcançado, um orgasmo ou uma ejaculação surgiu. Seca, agreste e previsível como os contos de um folhetim vulgar. Pensa, já começo a esquecê-lo, é como se ele não existisse. Se olha no espelho e uma tímida lágrima surge inevitavelmente (como a vida é, inevitável).

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