Encarar a nossa vida e nosso mundo como algo que está em permanente mudança, como uma experiência efêmera e singular é um desafio que poucos ousam de fato efetuar.
Por quê?
Suponho que por muito tempo e por muitas gerações fomos conduzidos a simplesmente sonhar, desejar e especular possibilidades para a construção e consequentemente vivência num mundo ideal, perfeito, harmônico, apolíneo. Sonhar puerilmente com um mundo que caiba exatamente em nossos sonhos sempre foi, e ainda é a forma mais comum de aceitarmos esta vida que se apresenta. Vida esta que é em contra partida, uma ambigüidade de contingências, algo vivo a se manifestar ferozmente contra quase todos os nossos desejos, impulsos e pulsões. A vida é o caos da genealogia do mundo, é da confusão e miscigenação de forças contrárias e favoráveis, que criam formas, que apresentam os caminhos (caminhos a seguir, a percorrer, e não para ficar estático numa contemplação submissa, inócua e infrutífera).
Uma vez compreendendo a vida por uma ótica diferente, apreendendo-a por esta divagação que eu apresento de forma um tanto quanto canhestra e livresca (porém com toda a minha sinceridade passional/existencial), sou compelido a afirmar, que a vida é o devir heráclatiano, a vida é a selvageria dionisíaca. E desta forma é necessário em seus primeiros momentos a fim de vivê-la, ter uma atitude de coragem (mesmo que as pernas tremam e a voz não saia, nem para um gemido de dor). Boa vontade (que em nada tem haver com força de vontade, pois esta nos faz desperdiçar, desprender uma quantidade enorme de energia vital, e assim diante de uma frustração qualquer desistimos. Deitamos-nos e nos cobrimos com o manto da culpa, da autopunição, castigo e outras balelas, heranças da nossa cultura judaico-cristã). A boa vontade é aceitar o medo e a dor, mas também, ter um desejo enorme de realizar tudo o que se quer.
Mudanças são transformações, transformações de um estado físico, químico, psicológico, para um outro estado, que se pressupõem ser uma evolução positiva e construtiva. A mudança é a passagem do estado de mero objeto, ao de sujeito. E sujeito é o que pratica a ação.
Mudança não é fuga do não ser para o ser é a construção do ser, para aquilo que se quer ser.
Mudança não é exilar-se de si, e nem para algum lugar.
Exílio é fuga. E quiçá, a afirmação do não contentamento com o estado de coisas e situações esdrúxulas e opressivas.
Creio ser pertinente deixar-mos nossa mente livre de fantasmas que nos amedrontam e nos enfurecem, para não confundirmos mudança com exílio.
E creio também que todo o processo de transformação e mudança deva ser feito com base num amor a muito esquecido (por nosso egoísmo, por nossas atitudes narcísicas), o amor fraternal (originado antes pelo grande fogo da paixão).
Nenhum comentário:
Postar um comentário