Alguém sabe a razão de não haver mais prova de filosofia no vestibular da UFRJ?
Eu não sei.Quem vai saber destas coisas, o "Oráculo" talvez.
O jogo de tira e põe o ensino de filosofia, não somente no vestibular (de algumas instituições de ensino superior público), mas também no elenco das disciplinas que compõem o ensino médio. Não é um fato recente e/ou inédito. É sim uma repetição que em linhas gerais, vem acontecendo a mais de 30 anos no Brasil.
Num primeiro momento, e fazendo uma avaliação um tanto quanto superficial, posso identificar de início que não só a filosofia mas também outras disciplinas foram estigmatizadas como disciplinas que não atuam conforme o intuito estratégico do Estado. Pois, se tratando não só do ensino público e gratuito que ainda é uma obrigação deste fornecer educação à todos, não obstante o ensino privado também tem de acompanhar os ditames proclamados pelo MEC. Com isso um fator que constitui a minha breve análise é verificar que disciplinas ofertadas criam ônus para o Estado e para as instituições privadas.
Um outro fator, e não menos relevante, é a ideologia que compõem o objetivo a priori da educação. Faz-se saber: formar cidadãos, que atualmente na minha concepção, foi atrelado a ser também um trabalhador. Quanto a esta relação, que por sinal é pouco debatida em diversos espaços e quiçá até mesmo aonde o trabalhador se faz presente, não é foco da deturpação ideológica e/ou pseudo-filosófica. A decadência ideológica, filosófica e pedagógica se dá em incutir na sociedade ao longo de vários anos a falsa aplicabilidade que determinadas disciplinas tem, e que por isso favorecem uma inserção (rápida) no mercado de trabalho. Enquanto isso, paralelamente outras disciplinas são caracterizadas como algo que não se conjuga e aplica, laconicamente falando, a vida cotidiana e/ou ao mercado de trabalho. As disciplinas, como a filosofia, que são tidas como algo inútil por não serem alvo de fácil manipulação ideológica e por não acompanharem o determinismo espúrio de algumas vertentes vorazes do capitalismo e regimes políticos autoritários é sempre conduzida ao esquecimento ou a uma interpretação caricata sobre seu propósito. Não obstante, uma das ridicularizações notórias é a falsa afirmação de que por exemplo, a filosofia não tem um propósito (e por isso não serve para nada). O que posso colocar em linhas gerais, ainda como graduando em filosofia, é que a filosofia não tem um único propósito somente, ou seja, ela pode ter vários propósitos. Puerilmente exemplifico que se pode atuar com a filosofia nos diversos campos de saberes que compõem a sociedade de conhecimento. E isso de forma quase sempre de forma crítica, mas não pirrólica. Pois, o intuito de uma investigação filosófica e/ou de uma iniciativa filosófica não é desconstruir verdades para substituir por outras. Mas sim, estar em quase que um permanente estado de alerta sobre o que venha a ser estas verdades (sejam elas na economia, política, educação ou saúde).
Dotar o sujeito desde cedo com um conhecimento harmonizado com as várias disciplinas, valorizando sua experiência subjetiva, possibilitando-o que não somente se informem, mas que consigam entender a informação. Que tenham uma crescente atitude investigativa sobre sua vida e o que a compõem é por deveras ousado. E o Estado estava ciente disto a mais de trinta anos passados.
Suponho que alguma parcela da responsabilidade sobre a filosofia e outras disciplinas estarem neste joguete de tira e põem, de entra e sai de currículos. Pode ser por um certo ostracismo acadêmico. E/ou porque nós pretensos filósofos não damos a devida importância ao nosso daimom e perdemos nosso pathos.
Bem, continuo sem saber exatamente a razão da extinção da prova de filosofia do vestibular.
Mas quem saberá destas coisas? O "Oráculo" talvez.
Atenciosamente,
Brunno Amâncio Marcos - 21 71379701 - 21 87503280
Graduando em filosofia - UFF (Universidade Federal Fluminense)
Niterói/RJ
"Não sou pessoa de deixar mensagens em garrafas . O que temos a dizer não é apenas para um futuro mítico ."
Herbert Marcuse
Um comentário:
A existência da banalização do conhecimento frente a era da informação é realmente assustadora.
O mundo se rendeu as façanhas do capitalismo. Vendemos nosso tempo, nossa mão de obra e toda nossa vida.
Até mesmo o direito de pensar nos foi tirado, pelo processo de alienação do trabalho.
Hoje os centros de educação ainda trabalham para a reprodução do projeto falido da modernidade. O que o capitalismo nos prometeu/e ainda/nos promete, continua sendo ensinado em nossas escolas.
Nossos alunos não entendem por que estudam filosofia, história ou outras coisas que não são exigidas pelo mercado de trabalho.
O diploma é o produto a ser adquirido.
E o conhecimento onde fica nessa história?
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